Claudio Clarindo ofertando autógrafos aos fãs no estande da Shimano, na BCF 2015. Crédito: Roberto Furtado / Aliança Bike |
Bom... pensei muitas coisas antes de escrever este post, porque vi a mídia especializada e a não especializada, assim como muitos ciclistas, caindo ferozmente sobre o assunto. As mídias, muitas delas, se aproveitaram do momento... elas queriam a exposição que a tragédia promoveu. Acho que hoje em dia isto é bem natural, mas devemos pensar um pouquinho nas nossas ações. Podemos falar a respeito? Sim, claro... há dezenas de pessoas que realmente conheceram Clarindo, muitos tinham muito carinho por ele, pois ele é um brasileiro ímpar no ciclismo de longa distância e uma pessoa muito legal para conversar sobre o esporte. Em fevereiro de 2014, Clarindo e eu trocamos algumas mensagens. Ele justamente reclamava a falta de atenção que a mídia ofertava a ele. Ele queria mais visibilidade para obter mais patrocínios, pois estava para realizar seu quarto momento junto da RAAM. Acho que era isto, alguém me perdoe se eu estiver enganado. Naquela oportunidade ele me pediu para ajudar na divulgação e eu prontamente disse que era apenas um blogueiro e repórter fotográfico da Revista Bicicleta, mas que faria o possível para ajudar. Publiquei naquela época, um material produzido pela assessoria de imprensa dele.,. Eu, entendia que ele buscava formas mais eficazes de levantar o valor para promover seus sonhos... os mesmos de muitos brasileiros, destacar-se no esporte por merecimento. E confesso que quando vi todos os blogs e sites, portais e demais veículos especializados, anunciando e comentando o fim destas estrada da longa distância, fiquei bastante pasmo... é preciso morrer para ganhar a atenção das pessoas? Ninguém oferece ajuda a ninguém... raramente algo acontece, ou somente depois de muito trabalho e destaques inevitáveis é que se consegue a atenção de todos. Ora, ter realizado três vezes a RAAM não havia sido suficiente para a mídia? Clarindo já não era merecedor daquele destaque? Vejo as mídias especializadas reclamando diariamente da falta de apoio para promover o trabalho do jornalismo da bicicleta, mas praticamente todas elas, seus editores, esquecem de que tais atletas precisam desta exposição. É mais ou menos o que acontece dentro das redes sociais... empresários ou funcionários de empresas pedem para você curtir uma página, mas jamais ajudam na promoção dos seus projetos. Todo mundo quer para si, ninguém faz para o próximo... mas estão sempre julgando e esperando que você faça por eles. É uma via de mão única... e eu via Clarindo nesta estrada até pouco tempo atrás. Alguém com feitos formidáveis e, se você não acredita nisto, faça um Audax 200 km, multiplique por 25 e vc terá 5000 km. Assim, vc entenderá o que é passar dias pedalando... praticamente em um ritmo que o corpo não se recupera para o dia seguinte. Vcs querem saber o que penso? Clarindo é um super herói, raro, incomum, com características de superação que jamais entenderemos. Gostaria ter ido ao velório... teria ido, apenas para prestar minha admiração como ciclista e fotojornalista especializado, também para ver quem foi neste triste evento. Certa vez alguém me perguntou se eu não acreditava nas pessoas... e eu respondi: "passarei a acreditar quando as ações forem verdadeiras! Até lá, ficarei com talvez, duas dúzias de pessoas. E para isto, basta que você preste a atenção na forma de conduzir o automóvel. As pessoas próximas de nós, não sabem como se comportar no trânsito!"
Fiz o Audax 200 e 300 km algumas vezes... acho que foram cinco oportunidades. Sonhei em ser um grande ciclista da longa distância, assim como Clarindo, mas nunca tive coragem e aptidão verdadeira para ser tal herói. Ainda que não tenha conseguido ser nem mesmo um bom devorador de km como Clarindo, entendo que consegui captar em parte esta grande jornada. Acho que Clarindo mirava no horizonte, pensava que estava sempre quase chegando, administrava a mente como um sábio. Ele dominava o corpo com sua mente estável, convencendo o corpo de que aquilo era normal. Para dentro de si mesmo, dizia ao corpo: "Vamos lá! Cara, são apenas cinco mil km!"
Aonde quer que esteja, não penso em outra coisa... estará pedalando, em nossas mentes, em nossos corações e servindo de exemplo as novas gerações. Para mim, alguém que engana o corpo tem algo de mágico. Não consigo deixar de pensar que 5000 km são mais ou menos 5 vezes a distância entre Porto Alegre e São Paulo, feito realizado em curto espaço de tempo. Há amor pelo ciclismo maior do que este? Se culparemos o motorista... façamos olhando para dentro, pois nossa cultura precisa de uma metamorfose. Precisamos de uma mudança para que sonhos não sejam interrompidos. Morre um derrubador de gigantes, mas fica um legado de que tudo é possível quando o sonho se une à coragem!
Roberto Furtado
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