quinta-feira, 20 de março de 2014

A morte de um sonho ciclista


Hoje é um triste dia para quem respeita e pensa em bicicleta. Não há outra coisa para se pensar se não nos problemas de um cotidiano que parece não evoluir de encontro ao necessário equilíbrio. Pedestres e ciclistas, até onde eu sei, são pessoas que apenas possuem objetivos e sonhos. Quando um ciclista ou pedestre é atropelado de forma fatal, imediatamente tento me colocar no lugar da vítima, depois no lugar da família. Uma vida interrompida é um número na estatística de trânsito, esquecida e lembrada apenas como comparativo para as gestões do trânsito e do governo, mas para a família esta é uma história que têm apenas um começo e garantia. O começo da saudade e a garantia de que jamais será vista aquela criatura de importância ímpar no seio pertencente. O que é perder um filho, um irmão, um primo, um amigo de infância? Sem desmerecer os demais graus afetivos existentes na sociedade, tais como amigos que se falam eventualmente, a impossibilidade de falar por definitivo é uma dor inimaginável. Afinal, o que move as pessoas diariamente... pq e quando elas perdem a noção de que acidente é algo, muitas vezes, praticamente impossível de evitar? Com que direito as pessoas ultrapassam o limite da velocidade? A perda irreparável não é compreendida sem que se torne uma realidade? Recentemente fiquei sabendo o nome da menina, de 21 anos que faleceu hoje, nesta tragédia... a família pediu para não divulgar o nome. Será que dá pra entender? Ora, será que alguém entende verdadeiramente a dor da perda desta família? Você esta olhando para seu familiar neste instante? Imagine então que neste exato momento, de agora diante, vc não teria mais a presença da pessoa querida. Nunca mais! Vc entende agora? Talvez... eu não tenho certeza do que é isto!
Se a vida é ou não é frágil, acho que já se percebeu... não tem ninguem aqui nesta cidade do trânsito canibal que não percebeu isto ainda. Se conhecem o valor da vida, bem, acho que não!
Acredito que existe duas formas de olhar para esta situação... do ponto de vista o indivíduo como centro do universo, onde ele corre o risco de morrer, e deixa de sofrer no mesmo momento. E do ponto de vista de uma pessoa normal, possuidora de família, de gente carinhosa que sente a falta dos queridos depois de minutos de afastamento. Quem ama, sabe! " Conto no relógio os minutos pra te ver..."
Todo mundo têm um sonho... toda vida é um sonho em constante realização. O tempo em que estamos vivos, nos coloca em oportunidade de tentar viver o sonho, mas isto é algo que tem preço, tamanho e aspirações próprias. Eu sei que esta menina, de duas décadas de estrada, estava apenas começando. Nela, estavam depositadas as expectativas da família e suas próprias. Talvez ela desejasse ter um grande amor, ser uma grande artista... talvez ela quisesse apenas ver os pais envelhecer! O tamanho e a importância de cada sonho é "incalculável" por mim, por ti ou pelo motorista de ônibus. Agora não há mais nada para fazer, apenas lamentar. Criar ações para lembrar a garota ou para pedir paz, me parece uma tentativa mais do "eu mesmo" do que para a própria. Tentar alguma coisa é preciso... mataram mais um sonho ciclista! Quem se importa se agora tenho medo de pedalar nas ruas, quem se importa se vc tem pavor de um dado cruzamento na condição de pedestre? Mataram o sonho de uma ciclista, mataram o meu... mataram o sonho de muitas pessoas!

Um comentário:

  1. Ótimo texto, realmente hoje marca um dia de tristeza de duas famílias a família da moça e a família ciclista. E nos perguntamos, realmente depois de um dia como hoje, todos nós ciclistas estamos com mais medo de pedalar pelas ruas de uma cidade, mal administrada, mal projetada e mal educada? Eu respondo que sim todos estamos com mais medo, e sim devemos ter medo, não nos deixar dominar pelo medo e abandonar o prazer ou a necessidade da bike em muitos casos, mas sentir o medo de forma controlada ele nos faz lembrar de dias como hoje na hora de votar ou até mesmo de atravessar a rua e nos deixa alerta para o abuso de quem não respeita o seu próximo.

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