Todo mundo têm
uma história! Algumas são diferentes, outras mais comuns, mas a vida sobre a
bicicleta traz a todos uma semelhança nos assuntos do trânsito. Os ciclistas,
sejam atletas em treinamento ou usuários em exercício da mobilidade, se deparam
com problemas parecidos. De maneira geral, eles, têm receio do trânsito,
observam os automóveis e procuram espaço e ao mesmo tempo distância. Esta
guerra travada diariamente nas ruas pode ser incluída no tema revolução da
bicicleta. A revolução da bicicleta não poderia ser conceituada em algumas
linhas, tampouco limitada a tópicos de parágrafos extensos, pois cada situação pede
uma reflexão específica. Contudo podemos avaliar e incluir ações e reações
deste fenômeno transformador que soma usuários da bicicleta, “interessados e
integrantes”, da necessidade e do lado mais fraco do sistema de mobilidade
urbana. É relevante dizer que os ciclistas e pedestres, as vítimas mais
potenciais do sistema de trânsito, possuem grande força quando reunidos, no
entanto é conhecida a fragilidade dos mesmos indivíduos perante o cotidiano
comum e solitário nas vias. Incluem-se pedestres porque são igualmente frágeis.
Durante a
trajetória desta história aconteceram alguns episódios infelizes do trânsito.
Alguns acidentes com vítimas, muitas de forma fatal. O caso mais famoso deles
foi o atropelamento da Massa Crítica, cujo autor, Ricardo Neis, acelerou o
automóvel em direção a centenas de ciclistas. Foram dezenas de ciclistas
“atropelados”, felizmente e estranhamente, ninguém morreu. Videos circulam nas redes
sociais até hoje, e muitas vezes podemos ver comentários contra o autor,
chamado de monstro, acusando-o de uma ação intencional. Este foi um dos casos
que ganhou repercussão nacional e internacional.
Além deste caso, ocorreram
inúmeros outros fatos em todo Brasil. Alguns
famosos também pela ação intencional, pelos “tapetaços” a ciclistas nas
imediações da USP. Também fácil de lembrar foi a episódio do rapaz que teve o
braço arrancado na colisão de um automóvel... David,o ciclista e vítima,
pedalava quando foi acertado por um motorista embriagado. O motorista fugiu do
local levando o braço da vítima que ficou dentro do automóvel. Na sequência dos
fatos, o autor do “acidente” jogou o braço da vítima em um valão de drenagem
pluvial.
Recentemente, em Porto Alegre , duas
meninas, estudantes universitárias, foram atropeladas em um afastamento de
tempo de apenas 8 horas. Foram atropeladas por ônibus linha, coletivos, de
Porto Alegre. A primeira vítima, Patrícia, 21 anos, no início da manhã, na
região central, e a segunda vítima, Daíse, de 19 anos, durante á tarde, na zona
norte de Porto Alegre. Embora estes acidentes estejam se tornando comuns no
Brasil, a brutalidade e o pequeno afastamento de tempo entre os acidentes
chamaram a atenção de toda sociedade portoalegrense. Para elas e os familiares,
ocorreram homenagens, caminhadas e bicicletadas! Os protestos de diversas
maneiras aconteceram em resposta a violência do trânsito. Muitas postagens em
blogs e redes sociais a respeito do ocorrido foram constadas em grande
circulação. Evidentemente, as conseqüências são demonstrações de falhas ou
inexistentes ações para evitar o “formato” de acidente. Ocorre nestas e em
todas as outras infelizes situações, a irresponsabilidade e omissão por parte
da sociedade, que se estende pela péssima gestão dos órgãos competentes, ou de
outra forma analisando, incompetentes.
A impressão de
muitos cidadãos é de que a vida não vale nada mesmo. Os crimes e acidentes
acontecem de forma banal. Perdeu-se o respeito por completo sobre o próximo,
sobre questões da integridade física e mental de quem circula pelas vias. O
motorista do Brasil se sente impune, dentro de um “cofre” automotivo, iludido
de que a vida própria esta protegida, e arriscando a vida alheia. Esquece o
motorista, que pode possuir família que transita pelas ruas, e que sobre a
bicicleta esta uma fração de outra família. Algumas conclusões chegam para
aqueles que ainda possuem capacidade crítica frente a tantas ocorrências... A
começar pela existência de pessoas completamente incapazes de sensibilizar-se
com qualquer situação em que seja primordial o valor da vida; depois percebe-se
a impunidade em todos os graus e tipos de situação, que leva a banalização da
ação e aumento do desrespeito; também se evidencia a incapacidade de condução
de automóveis por parte dos motoristas, que não dominam perfeitamente os
veículos, por motivos variados,
inclusive por pensar ao contrário e pelo despreparo. Ocorre em muitos casos a
falta de percepção de que o veículo automotivo é um meio de transporte, que
quando em mau uso, torna-se uma arma. E neste veículo é potencializado o
resultado da tragédia em decorrência do aumento de peso, potência e situações
que agravam a dificuldade de sua condução ou resposta para evitar acidentes. Em
uma busca por respostas complexas, perdem-se muitas vidas, geralmente daquelas
que não optaram pelo automóvel, seja no cotidiano, ou no momento em questão do
vivido azar... as vítimas em sua maioria, são criadas pelos autores
irresponsáveis em episódios do filme diário do trânsito. A revolução pacífica
da bicicleta, motivada por aqueles que não percebem outra coisa, senão o prazer
de viver e a qualidade direcionada a toda sociedade, perde pontos valiosos a
cada vez que a sociedade apresenta uma baixa de trânsito. Perde-se uma vida,
ganha-se atenção temporária para a questão, perde a família da vítima por
definitivo, ganha a industria automotiva descontrolada, perde a indústria da
bicicleta, perde-se a qualidade de vida sobre o ar, espaço e respeito. Entre
ganhos e perdas... perde a revolução da bicicleta, por hora, mas de migalhas
que representam cada vida, ganha-se a atenção da sociedade para mais uma
batalha perdida! A vida perde sempre... perde sempre, em um novo e artificial
processo de seleção criado por nós mesmos, alimentado por necessidades que
criamos, que enriquece alguns e empobrece a família de outros.
Texto e fotos: Roberto Furtado / Bikes do Andarilho.com
Texto e fotos: Roberto Furtado / Bikes do Andarilho.com
Totalmente de acordo meu caro. Em Portugal o cenário é semelhante. Cumprimentos
ResponderExcluirAo ler esta postagem, me deparei com a lembrança de um amigo que perdi nessa guerra insana. O motorista causador do acidente fugiu, mas retornou ao local após ser perseguido por uma viatura da polícia. O que achei estranho foi que não constou no boletim de ocorrência que ele evadiu do local e o caso correu em segredo de justiça, provavelmente por se tratar de algum almofadinha, ou filho de alguém influente na cidade. Até hoje eu não soube o desfecho do caso e nem me encorajo a perguntar para a família da vítima. Aqui em Pelotas quem opta pela bicicleta, praticamente assina a sua sentença de morte.
ResponderExcluirInfelizmente o ciclista sempre sai perdendo, pois já vi casos de motoristas se acharem com mais direito simplesmente porque pagam impostos de seus automóveis, um amigo encontrou um destes no trânsito e era um cidadão de idade, que na teoria deveria possuir mais sabedoria pelos anos vividos.
Colegas, estes depoimentos são de extrema importância para a comunidade ciclística, pq eles encorajam a voz de outras pessoas. Não seremos "ouvidos" enquanto estivermos desunidos. Todo trabalho de conversa que gera reflexão em quem utiliza o carro, pode ser uma esperança de mudança. É um mundo injusto para aqueles que pedalam, que percebem o valor de uma bicicleta na mobilidade urbana. E vai chegar um dia em que uma vítima pedestre ou ciclista, será vista como uma perda real para a sociedade... e com isto, todas as situações que cercam a bicicleta também serão vista de forma mais justa e democrática. Obrigado, um abraço e continuemos insistindo. Esta é uma guerra nossa!
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