Ao pegar a bicicleta, o ciclista de Porto Alegre tem uma única certeza.
O ciclista vai para a rua e não tem certeza de que vai voltar ou chegar ao
destino. Os carros velozes, transformados em armas nas mãos de motoristas
irresponsáveis, tiram finas e ameaçam constantemente aqueles que sonham com uma
bicicleta veicular.
A mobilidade urbana é caótica, e ao mesmo tempo em que fracassa,
mostra-se irredutível nas mãos que agarram o volante. O som dos motores em
ritmos de aceleradas e desaceleradas, de carros, motos, ônibus e caminhões não
afugenta mais os pássaros urbanizados, mas amedrontam pedestres e ciclistas.
Atravessar a rua na condição de pedestres, especialmente em vias largas,
tornou-se uma aventura. Talvez a roleta russa seja mais segura que a faixa de
segurança. Falar por falar, todos fazem, mas experimento na pele a condição de
ciclista por alguns dias, utilizando a bicicleta com meio de transporte de
trabalho. Em dados momentos parece impossível... em alguns lugares, a calçada é
o melhor lugar para o ciclista, mesmo sendo proibida para a bicicleta, de
acordo com o CTB. Entre ser uma infrator e um cadáver, muitas vezes optei pela
primeira opção. Obviamente, com todo cuidado para não prejudicar ou ameaçar um
pedestre inocente.
Munido da única arma que tenho, a máquina fotográfica e a escrita,
decidi observar atentamente alguns cruzamentos, afim de poder transmitir da
melhor maneira o terrorismo vivido por aqueles que se encontram no exterior dos
veículos automotores. Não acredito em generalizações, mas as caminhonetes
importadas e volumosas, tipo SUV, parecem portar os motoristas mais perigosos.
Motoristas espaçosos, que nitidamente desconhecem o tamanho dos veículos,
também seu peso aliado a inércia, em relação a um pedestre ou ciclista. Parece
que os motociclistas, por andarem rápido, de alguma forma estão mais protegidos
que os ciclistas. Talvez, a possibilidade de acelerar rapidamente permita uma
fuga das motos. O que não acontece com bicicletas.
Na imagem desta postagem,
tentei criar o impacto de uma avenida de 3 vias de mesmo sentido, de forma a
demonstrar o que é estar na faixa de segurança. Se o pedestre ou o ciclista
esperar mais que o tempo necessário para tirar a foto numa corrida ao fechar o
sinal, certamente será vitimado, pois ao que parece, pedestres e ciclistas, aos
olhos de motoristas, não são seres vivos. Para o trânsito caótico, evidente das
cidades brasileiras, pessoas no exterior de um carro são como uma garrafa PET
que comumente rola pela rua, são alvos em potencial, merecedoras de acerto
fatal. A banalização se efetivou! Sem drama, são apenas, pessoas... Não há
espaço ou interesse para ciclovias! Há somente interesse no que garante o fluxo
de dinheiro e poder... as vidas ou ciclovias são apenas desejos de velhas
garrafas PETs.
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