Observando a cidade e o trânsito, me
pergunto onde estão os erros. A cidade grande respira contra os ciclistas e
pedestres, também contra aqueles que dirigem veículos em velocidade menor e
segura. A conclusão é que fica restrita a ideia de que existem soluções para
colocar em prática. O
trânsito seguro parece óbvio na formação de conceitos, mas conhecendo os
comportamentos nas vias urbanas, acabamos por perceber que não vai resolver.
Isto pq chegamos a um limite onde tudo se mistura... do desrespeito a vida,
aliado a impunidade, até chegarmos na tal banalização da morte ou da tragédia.
Quando alguém me pergunta se terei filhos
ou pq ainda não os tive, não receio responder que de verdade não sei... mas que
vejo um mundo cada vez menos apto para receber crianças e velhos. Os adultos
vão para as ruas para viver entre semelhantes assassinos. Os assassinos são
modernos, usam volantes e motores alimentados por combustível ultrapassado
monitorados pela injeção eletrônica. A capacidade dos veículos transformou-se em
grandes proporções depois de ganhar investimento tecnológico...
Antigamente, meu
avô possuia um fusca 1200, 6V, ano 1964. Em uma das histórias do amigo, pai de
minha mãe, ouvi sobre aquele fusca viajando pela Argentina, Uruguai, Paraguai,
numa jornada de dezenas de quilômetros com o intuito de se aventurar. Perguntei
a ele... "Vô, a que velocidade vocês viajavam?" Ele respondeu que em
torno de 80 km/h .
Contou em detalhes esta viagem, que hoje me são lembranças, pois ele falecera a
cerca de 10 anos. No dia em que peguei a alça do "caixão" e ajudei a
colocar dentro da parede, senti o atrito da madeira deslizando sobre o concreto.
Era um homem velho, grande, meu amigo, e então partira. Vivi outro mar de
reflexões... Embora soubesse que ele era um velho, mas saudável, velho de 84
anos, desatei no choro pq havia perdido um grande amigo. O extremo dele foi
viver até os 84 anos, sua velocidade era de 80 km/h , nas caminhadas que
eu fazia com ele até o super, passadas longas de um velho com mais de 1,80 e
que dizia ter sido a pessoa que mais caminhou no mundo. Ele era topógrafo,
mediu propriedades rurais enormes, redesenhou junto a DNOS (extinto) a estrada
de Porto Alegre até Pelotas, dentre outras obras que lembro das histórias e que
não cabe contar.
Hoje, nas ruas,
lembro dele. Lembro um pouco sobre como ele pensava, quando ele passava a mão
sobre a minha cabeça quente sobre o sol. Lembro que as coisas andavam mais
devagar não somente na vida dele, mas nesta que conheço como cidade de
concreto, tal de um "Porto" que insisto em chamar de "não muito
Alegre". O ritmo mudou, as pessoas também... o dinheiro não vale nada,
menos ainda a vida das pessoas. Os carros tiram finas cada vez mais próximas
dos ciclistas, pedestres e cães vadios. As crianças, se forem para as ruas,
morrerão! Os protestos são feitos com um tal extremismo que perde o crédito da
ação, visto por uma maioria como vandalismo. Os carros são extremistas nas mãos
de insanos como Ricardo Neis, e outra centena de milhar que anda se sentindo
deus na posse de um volante. Eu, ainda não tenho filhos... e por saber que vou
amar tanto quando existirem, receio tê-los. O extremismo acontece em quase
tudo. Na velocidade dos carros, nas intenções de quem expõe idéias, na ganância,
na dificuldade que todos têm em entender o valor da vida. Este extremismo
impede de muitas formas a bicicleta de ser um estilo de vida, um transporte, um
carro a menos nas ruas. Que bom se as pessoas pudessem tentar entender um pouco
como é pedalar pelas ruas de Porto Alegre, em ambos os extremos, em ruas com
poucos carros e em ruas cheias de carros velozes, pois assim elas facilmente
entenderiam o que é ser feliz. Seria a dose certa de viver a vida...
Lindo texto. Parabens.
ResponderExcluirMuito interessante. Principalmente sua colocação sobre o extremismo dos protestos. É uma situação realmente complexa.
ResponderExcluirAcho que no curso de formação de condutores os candidatos deveriam ser obrigados a pedalar, pilotar uma moto e dirigir um carro e já receber uma carteira AB. Quem sabe assim poderíamos reverter esse pandemônio.
Abraços