quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Um olhar de "Gentileza gera gentileza" por Flavio Oliveira Filho

           Existiu um tempo, e não faz tanto assim, pois eu estive lá, onde tudo era muito diferente do hoje que vivemos. Existiu um tempo onde as diferenças não eram abismais e o convívio, por maiores as diferenças, era não só possível, mas humano, no verdadeiro sentido da palavra. O mendigo andarilho batia na porta da minha casa e recebia uma refeição com um sorriso, em prato de louça e talheres, que ele devolvia e agradecia. As coisas não eram como hoje, onde o medo impera, onde o "salvar a própria pele" se tornou mandamento e o umbigo passou a ser o centro do mundo. O convívio, independente das classes, era pacífico. Cresci vendo minha família ajudar os que necessitavam mais do que nós. Quando tinha 12 anos, minha mãe adotou uma menina que vivia nos arrabaldes de Uruguaiana, filha de pai alcoólatra e de "mãe da vida"; na casa dela, um cortiço de chão batido e sem banheiro, se comia com as mãos. Lembro perfeitamente do dia em que minha mãe, católica fervorosa, resolveu batizá-la e me "convocou" para ser padrinho. Ela tinha 10 anos! Como negar o pedido de minha mãe? Me fui à Catedral e e lembro de tudo até hoje, inclusive da roupa que eu estava. Trouxemos a minha afilhada  para Porto Alegre, que viveu conosco por muitos anos, e hoje, 35 anos depois, é casada, tem filhos e é feliz. Nas minhas infinitas reflexões a respeito de tudo desta vida, fico me perguntando o que seria sido dela se não fosse esta pequena intervenção no triste destino que se apresentava em sua vida. E é nestes detalhes que me prendo! No quanto uma mão amiga, um coração bondoso, um exemplo de vida, influi para todo o sempre nas nossas vidas. "De apanhado", me lembrei deste que acabo de narrar. Graças a Deus, tenho muitos, tantos outros, que poderia passar a madrugada aqui, contando um por um. Mas não é o caso! Até porque sei, dificilmente seriam lidos, visto o mundo imediato, descartável, volátil, passageiro e recheado de novos assuntos, tão mais interessantes do que o que narro aqui. Meu querido amigo Roberto Furtado pediu que eu escrevesse a respeito do assunto e prometi minha manifestação. Até porque, também aprendi nesta vida a corresponder àquilo que me é solicitado. Na verdade, penso que a necessidade de ter que lembrar as pessoas que, por exemplo, "Gentileza gera gentileza", é um atestado da nossa incompetência enquanto humanos, já que isto era pra estar incrustado em nosso DNA, como qualidade irrefutável de todos nós, humanos defeituosos e tortos por natureza, mas que, na minha modesta e humilde opinião, deveríamos saber que nossos braços são mais longos do que enxergamos, e que nossos corações suportam muito mais do que supomos. Tenho muitos amigos, Graças a Deus, verdadeiros, e que se manifestam todos os dias, á sua maneira, nesta lida árdua que se tornou o viver. Cultivo um por um, não importando de onde saiam, seja de um contâiner de lixo, às sete da manhã, quando me dirijo ao trabalho, seja de um colega de trabalho, o porteiro do prédio, o engraxate da praça, o Guarda Municipal, enfim, as pessoas que, de uma forma ou de outra, fazem parte da minha vida, não importando de onde venham e o quanto tenham.  O que vale é o sorriso, o cumprimento, a saudação, que muitas vezes é o melhor que tem em seus dias. Junto destes, os "já conquistados", como a família, berço de tudo o que somos e fator determinante das nossas atitudes  e postura perante tudo o que está aí. Somos todos passageiros da mesma viagem e seria muito mais inteligente se soubéssemos entender que a vida é uma grande aventura a ser vivida, onde a poesia da interpretação de cada momento depende só de nós. 

                                                                                                                                Flavio Oliveira Filho

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