terça-feira, 14 de agosto de 2012

A metalurgia e a sustentabilidade - Bicicleta ecológica! Parte 2


Foi na década de 70, 80 e até mesmo na década de 90 que o Cr-Mo atingiu seu ápice na aplicação da industria da bicicleta. No Brasil existiu um período entre 92 e 96, aproximadamente, onde o mercado recebeu uma avalanche de modelos de bicicletas com excelente acabamento. Foi um período muito importante para a cultura da bicicleta no País. Muitas das marcas GT, TREK, Gary Fisher, Mongoose, Diamond Back, Bianchi, Bernardi (falecida), Jamis (raríssima no BR), dentre outras surgiram como referência ao mercado ciclístico impondo uma qualidade construtiva jamais vista antes aqui em terras brasileiras. As terminações, gancheiras, detalhes e suportes, fixadores e alguns recursos de aprimoramento e funcionalidade mostravam vantagens que eram necessárias, mas desconhecidas. Foi neste período que as marcas nacionais precisaram correr atrás... ao meu ver, jamais alcançaram o mercado. Olhe para o mercado brasileiro e compare nacional e importadas. Os adjetivos são tão diferentes, onerosos, mas fenomenais. 
Ainda na década de 90 que as primeiras bikes de alumínio surgiram, em forma de resposta a uma nova leva de fabricantes e marcas que invadiam o mercado mundial, atraídos pelas tendências. Com um sério concorrente, cujo o representante não é apenas um, mas centenas de pequenos fabricantes, as grandes marcas se viram obrigadas a criar novos diferenciais. Era preciso mudar a tecnologia, aumentar a margem de lucro, e produzir algo com ciclo de vida capaz de aumentar a produtividade das empresas.O emprego do alumínio serviu como uma luva nos planos das grandes marcas, era mais leve, mais tecnológico em termos de processos, e dificultaria a vida das empresas pequenas. Naquele tempo, não era qualquer empresa que comprava uma máquina para soldar alumínio, nem qualquer soldador fazia um bom cordão de solda. Tanto empresas com tais máquinas e com profissionais para operar era ainda escassos... assim como é o mercado para outras finalidades tecnológicas nos dias atuais. Se você parar para pensar, o carbono começa uma invasão que o alumínio realizou a cerca de 15-18 anos. Já tem uns 3 anos que o mercado recebe até mesmo frames sem marca, confeccionados em carbono. Esta invasão tem uma finalidade... justamente atingir um cliente que tem um impulso ou desejo por buscar algo mais evoluído e desta forma se manter atualizado! O consumidor com o produto novidade é o "cara" da vez! O mercado se alimenta deste comportamento consumista sem freios e sem muita, digamos, reflexão! A dificuldade que o carbono possui é no processo... não é rápido construir um frame de carbono como é para realizar um frame de alumínio. O alumínio e o aço tem uma velocidade construtiva similar, bem como o titânio, já o carbono... aí complica! É um processo artesanal que busca industrialização. Acredito que isto chegue lá, mas por hora, não é real. Alguns especialistas dirão que o alumínio precisa de menos energia para ser reciclado... no entanto, o carbono não pode ser reciclado (ainda não), o aço é reciclado com um custo de energia maior que o alumínio, mas em termos comparativos, haverá uma polêmica discussão. Quanto tempo dura um frame de aço Cr-Mo? Quadros bem cuidados em Cr-Mo são praticamente eternos. Tenho algumas bicicletas em Cr-Mo, algumas delas usei bastante, e sei que os donos anteriores usaram ainda mais. Nunca consegui quebrar um frame de Cr-Mo, e poucas vezes vi alguém quebrar quadro de Cr-Mo... mas vi muitos quadros de alumínio rachados ou quebrados. Com o tratamento que alivia tensões internas e solubiliza as tensões em torno ou próximas do cordão de solda, quadros de alumínio se tornaram mais duráveis. Este é um processo que por algumas vezes pode sofrer erro, e desta forma acontecer o dano. Como aquela GT idrive 4.0 que tive em 2008. Quebrou justamente na solda onde era preso o suporte do amortecedor traseiro. O alumínio não tolera erros no processo... se ele estiver mal tratado, for mal elaborado ou mal soldado, vai quebrar! É inevitável! Por isto você vê no mercado vários quadros superdimensionados, para que na região do cordão de solda isto seja minimizado. Enquanto realizarmos esta caminhada sobre qualidade, tecnologia e ecologia, estaremos em reflexão para conceitos de sustentabilidade. Ainda não consegui chegar nas bikes de bamboo, nem nas plásticas, tampouco nas de madeira, mas chegaremos lá, pode ter certeza. Missão para o próximo post...

Roberto Furtado

2 comentários:

  1. Quebrei todos os quadros de aço, incluindo Chromoly, que tive, inclusive um que comprei de ti! A diferença é que todos foram soldados e voltaram ao uso. Acho que o maior problema é a empresa construir algo com o objetivo de que ele seja trocado logo, e não com o objetivo de durar o máximo possível.

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  2. Helton, sim, concordo contigo sobre os objetivos das empresas. Acho que se trata disto também, de uma menor durabilidade gerar ciclos de compras.
    Uma observação, sobre a GT que quebrou... acho que seria correto complementar, que durante muito tempo, carregaste o Camilo no bagageiro. Sendo a Karakoram uma bike race, de fato não surpreende que ela não tenha aguentado. Contudo, sabemos que nem mesmo o cr-mo, por melhor que seja capaz em absorver impactos se comparado ao aluminio e carbono, pudesse de alguma forma suportar tamanha carga. Esforços ciclicos... a fadiga é um fenômeno inevitável quando há excesso de carga. abs e obrigado. Fico honrado com a participação de alguém com conhecimento específico.

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