segunda-feira, 6 de abril de 2015

Arquivo 2013 - A Alta Oficina de Kamikaze

foto: Roberto Furtado / Revista Bicicleta

foto: Roberto Furtado / Revista Bicicleta
     Todo ciclista experiente percebe que uma bicicleta tem excelente funcionalidade e desempenho quando o conjunto de peças tem alta qualidade. A qualidade dos componentes da bicicleta dará a ela atributos especiais que o ciclista saberá usar nas pistas, nas ruas, em treinos ou em competições.
O aprimoramento destes componentes exige que a reparação seja realizada por um profissional especializado. Em alguns casos, a substituição de parte de um componente ocorre como única alternativa. É comum, devido à especificidade dos materiais de competição e alto padrão, não existir estoque de peças ou partes de componentes à pronta entrega. Também pode acontecer um desgaste no local de origem que não permita a adaptação perfeita no processo de troca das peças. Além disso, alguns competidores gostam de adaptar as peças às suas necessidades: isto é conhecido pelo nome de customização.
Este serviço especializado ainda é raro no Brasil. Poucos profissionais se destacam por serem bons mecânicos, especialistas em determinados serviços. Podemos afirmar que bons mecânicos são uma raridade! E com a grande tecnologia em bikes e peças, a reparação especializada torna-se uma necessidade. De forma alguma seria possível obter o sucesso em reparação “engembrando” peças em um equipamento de altíssimo desempenho. Um nome muito comentado entre os participantes do downhill é do mecânico de bikes Juliano Spolidoro Milesi, de Porto Alegre - RS, conhecido pela maioria dos atletas com o apelido de Kamikaze, ou simplesmente, Kamika. Juliano se destaca porque é um destes profissionais da alta oficina, também atleta das provas de downhill. Em 2011, como competidor da categoria Master A1, ficou em segundo lugar no Campeonato Gaúcho de Downhill. Kamikaze diz que recebe diversos pedidos de reparação vindos de todo Brasil, não somente para bikes de downhill, mas também em segmentos de bicicletas reclinadas, garfos amortecidos e shocks de bikes full para all mountain e XC de alto nível e valor, ou ainda em projetos especiais (protótipos).

Carlos Wagner Horn (Tchaka) diz que necessita dos serviços da alta oficina por causa das limitações da assistência técnica de algumas peças. “Na condição de preparador de bikes de muitos atletas de downhill, algumas vezes encaminho peças de clientes para a assistência, mas mesmo as grandes marcas como Fox, Rock Shox, Cane Creek e Marzocchi tem seus limites na reparação: às vezes o trabalho não pode ser feito, outras vezes fica muito caro... Então, o componente é considerado “sem conserto” e, neste caso, o serviço do Juliano é a única alternativa. Parte dos trabalhos que tenho necessitam do trabalho da oficina especializada”.
A Revista Bicicleta foi recebida por Juliano em sua oficina, que fez questão de mostrar a execução de alguns serviços especiais, utilizando materiais aprimorados para realizar a manutenção das bicicletas. Ele exibiu com orgulho o ferramental específico e o torno de revolução com o qual fabrica as buchas, eixos e parafusos especiais em materiais como Cr-Mo, alumínio, titânio, bronze e polímeros de última geração.
Na manhã em que o visitamos, Juliano confeccionou um jogo de eixos e buchas para um shock traseiro de uma full suspension para downhill. A tarefa exigia muito cuidado, pois as buchas possuíam anéis de vedação que garantiriam a permanência da lubrificação e a longevidade do serviço prestado. 
Um fato curioso é a inexistência ou dificuldade de encontrar certas ferramentas para extrair determinadas peças. Como não encontra tais ferramentas, Kamika resolveu produzi-las: extratores para retirar buchas de assentamento, rolamentos, dentre outras preciosidades da engenharia moderna em bicicletas. Como ele mesmo afirmou: “as peças devem ser removidas com extratores; nada de bater em peças para retirar. Peças que saem com pancada podem ser danificadas ou danificar o local em que são aplicadas”, mostrando a necessidade do aprimoramento da oficina especializada no Brasil, na qual ele é pioneiro. 
Clientes como Shanderlei Selva atestam o cuidado e profissionalismo com que Juliano trabalha: “o serviço do Kamikaze é de primeira e por um valor justo. Já consertei inúmeros componentes tidos como condenados. Ele já recuperou suspas, freios, um cubo e várias vezes fez buchas de balanças da suspensão traseira. Este tipo de serviço acaba sendo uma alternativa essencial para quem pratica esportes que torturam os componentes e a própria bike”.
Uma lista de espera chama a atenção na oficina: bicicletas, suspas, componentes aguardando a vez para serem consertados. Por vezes, uma longa espera, mas ainda muito interessante economicamente, já que estamos falando em perder ou recuperar peças de altíssimo valor. “Algumas bicicletas passam de 30 mil reais”, explica.
Juliano também atua em outro segmento da indústria metal-mecânica, não relacionado à bicicleta, mas fortemente ligada à reparação de maquinário industrial. A junção das duas paixões tem feito dele um grande profissional da alta oficina da bicicleta. “O fato dele possuir conhecimentos específicos da indústria metal-mecânica, de tornearia, fresagem e outros, faz dele um cara apto a reparar estas peças com segurança. Se ele disser que não dá para arrumar é porque não dá mesmo”, finaliza Tchaka.

Texto: Roberto Furtado / Revista Bicicleta

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