terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Projeto Pescar... meninos da bicicleta!


De braços cruzados a sociedade não vai mudar nada. Foi justamente pensando nisto que Everson Ribas, conhecido na Zona Sul de Porto Alegre como Dudu Bike, aceitou o desafio de participar no Projeto Pescar. A iniciativa e o convite foram feitos por Alexsandra Alfonso, que hoje não está junto deste projeto, mas que sente muito orgulho dos rapazes e do bom andamento do conjunto. A ideia consiste em treinar e capacitar jovens para o mercado de trabalho. Neste caso, a grande maioria dos participantes tem idade entre 16 e 18 anos, são internos da FASE (Fundação de Atendimento Sócio- Educativo), cumprem pena socioeducativa por determinação judicial. Meninos que optaram por um rumo equivocado, ingressaram nos problemas da sociedade, mas que têm chance de ter uma vida digna.
Adriana Tavares, pedagoga e atual orientadora dos garotos, conta que muitos deles têm uma realidade difícil, contudo, os participantes do projeto acreditam e trabalham por uma mudança. “Estão aqui por algum deslize comportamental, as pessoas não os querem nas ruas. Aqui oferecemos um tempo para que eles possam pensar e aprender! A intenção é que eles tenham uma atividade promissora e honesta ao saírem do sistema, para que desta forma sejam reintegrados ao convívio social.”
Everson se vê como cidadão construindo um efeito em favor das mudanças que todos desejam, mas que poucos alimentam. “Capacitando os meninos, eles poderão exercer uma atividade que lhes dará dignidade e que pode render um sustento! É uma forma de gerar um mundo mais justo e seguro para todos. Quais são as expectativas destes garotos?”, completa Everson, que vai ao encontro dos garotos toda segunda e quarta pela manhã. Com disposição, ele ensina montagem e desmontagem, limpeza de peças que apresentam corrosão, montagem e centragem de rodas, conserto de pneus, alternativas na recuperação de uma bicicleta. Todo processo, objetivando a reparação com o menor custo. 
Paulinho*, um dos internos que passou no processo de seleção para participar do projeto, disse: “me envolvi com outros, foram más influências para mim. Usei drogas, me envolvi porque eu quis, acabei na pior. O aprendizado aqui é uma chance que tenho para pensar na solução disto!”
Outro interno, Pedro*, atento na atividade que fazia enquanto era entrevistado, esboçava felicidade porque fazia algo de que gostava. “Quando sair daqui, vou trabalhar numa oficina de bicicletas que tem perto da minha casa. Ajudarei minha mãe e meu irmão de oito anos. Meu padrasto esteve preso, agora estou aqui. O crime não está com nada, é sofrimento para todo mundo”. Era possível perceber um sentimento de culpa, e talvez este seja o primeiro passo para reingressar na vida social com novos horizontes.
Muitas vezes o sistema induz os garotos ao erro, e um dos motivos é a falta de referência. Com esta falha da atenção paternal, surge a oportunidade da influência do meio e do convívio. Everson diz que os jovens sempre estão sobre uma influência... Se esta influência for boa, o resultado será bom; de outra maneira, se ela for ruim, o resultado será negativo. O ministrante da oficina incentiva os alunos, chama a atenção deles para que acreditem em uma nova vida, pois eles podem fazer e merecem esta vida. “O que passou já foi, agora a gente vai construir um futuro. Vamos nos focar neste trabalho”, diz o professor Everson, incentivando seus alunos.
Alexsandra, orientadora e articuladora da primeira turma do projeto realizado na FASE, descreve uma trajetória de dificuldade para iniciar trabalhos deste porte e relevância social. Tais dificuldades são relacionadas às mudanças que precisam ser feitas e a desinteresses políticos. Outra dificuldade é reunir voluntários capazes de participar do projeto. “É preciso convencer as pessoas participantes de que elas podem cumprir um papel importante, e que não devem desistir. Eu acredito nos garotos! Digo a eles que fizeram uma curva em algum lugar do caminho que deveriam ter seguido, e que agora devem retornar para a estrada correta”. A iniciadora do projeto, Alexsandra, comemora o progresso dos meninos. “De novembro de 2012 para este momento, a evolução foi grande. Deve-se isto à estrutura que oferecemos e ao quanto nos dedicamos”, falando de todo conjunto de envolvidos e dos próprios internos do projeto. 
A bicicleta deve ser observada para que o mundo possa realizar as escolhas que favoreçam a sociedade. A bicicleta pode mudar o mundo por um perfil especial em aproximar as pessoas. A personalidade nos indica um caminho durante a formação como cidadãos e a bicicleta é o elo, independente de escolhas. Existe alguma influência permissiva da bicicleta para com toda pessoa que se interessa por ela. As pessoas sentem-se mais felizes, com isto tornam-se mais tolerantes e as portas se abrem. Nós, cidadãos, ligados à bicicleta ou não, temos a obrigação de ver esperança, de alimentar a aceitação dos garotos ao convívio social. Eles são muito capazes, andar nesta estrada é difícil, mas eles estão se saindo bem. Se pudermos contribuir para que o caminho seja de menos obstáculos, então todos nós poderemos desfrutar do mundo que desejamos. É uma questão humanitária que conta com a bicicleta, e isto ela pode oferecer.
A Revista Bicicleta acredita na reintegração social dos garotos do projeto. 
* Os nomes dos internos foram substituídos por completo para preservação de integridade dos mesmos.
Texto e Fotos: Roberto Furtado / Revista Bicicleta 

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