quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Aceitação da mobilidade e as mudanças necessárias


Aos poucos... um degrau por vez, uma semente por temporada de verão, uma oportunidade a cada momento! É aos poucos que vemos as mudanças nas ruas de Porto Alegre, que ao trânsito se parece imóvel e não evolutiva. Houve um tempo em que Porto Alegre deu passos largos pela bicicleta, que significa por uma sociedade livre, mas atualmente parece que a cidade pulsa contra pedestres e ciclistas. Nem se fala a respeito, mas há muitos atropelamentos de pedestres nesta capital que tantos adoram dizer umas das mais evoluídas do país. E de que adianta ostentar tal afirmativa se em relação ao primeiro mundo isto não é nada! Quem quiser, que vá a qualquer país do mundo verdadeiramente civilizado e comprove o que é necessário. Quando estive em Nova Iorque, São Francisco, Los Angeles percebi que a terra dos grandes automóveis tem um potencial plus que não se relaciona com o automóvel. Os EUA demonstram educação para quem vai cruzar a porta logo atrás de alguém... o gesto do primeiro é segurar a porta para quem chega depois e, a resposta é um "muito obrigado!"
A primeira importância da mobilidade praticamente inexiste no Brasil. Vc sabe qual é... mas há tempos ela não é praticada. Colocamos a culpa no governo, mas a conduta do governo também é fundada no perfil desta sociedade brasileira. Aquela cultura dos bons hábitos se foi... culpa sempre de uma geração anterior, por degraus que descem a escala em direção aos que surgem para substituir os membros da sociedade. Há engravatados repletos da falta de educação, há profissionais simples, como porteiros de prédios, com educação exemplar, mas os exemplos se explodem aos jovens de forma conveniente ao sistema. É a própria teoria do caos para a educação que não se passa apenas pelas escolas, mas sim nos lares, no berço familiar. E há também a falta de inteligência, pq nós sabemos que algumas pessoas que não tiveram oportunidade, transformaram-se em grandes homens, outros, de berço esplêndido viraram péssimos exemplos. Há de tudo, um pouco, mas o peso é sempre em favorecimento do caos. Aos olhos da sociedade preconceituosa, um porteiro, socialmente, é um fracassado. Enquanto um vereador ou deputado é um bem sucedido, pois lhes garanto que educação e bons hábitos não possuem cunho econômico, como muitos insistem em dizer. Culpar o Estado é a válvula de escape da desculpa esfarrapada... "morde a língua" pra dizer, pois se esta eleito, lamento, culpa nossa! Há tempos, não tão distantes, percebi que não há como lutar contra questões da mobilidade sem mudar o comportamento primeiro. É uma guerra perdida sem livros, berço e histórias tradicionais. Se falo tradicionais, traduzo da educação formal, dos bons costumes... do "bom dia", "por favor", "precisa de ajuda?" ou apenas siga seu coração, sem pisar no pé alheio ou esbarrar acidentalmente sem um pedido de "desculpa". Agora, pintar as ruas é um gesto de esperança, instalar bicicletários é necessário, porém, que seja com essência, com bons exemplos comportamentais, que sejamos um pouquinho mais sábios, pq as ruas do Brasil se parecem com a selva de pedra dos piores países do mundo e não se trata de oportunidades, se trata de "querer"!
Dedico esta postagem a minha mãe, que foi quem me deu carinho, oportunidade e talvez a paciência para me tornar um homem um pouquinho melhor. E com este texto, penso gerar reflexões, para que eu seja apenas um fragmento desta estrada que possa ser construída para uma sociedade mais "convivível".

Roberto Furtado

Um comentário:

  1. "Fecho" contigo, Roberto!
    Há tempos que penso (e digo) que tudo é uma questão de educação. Sem a intenção do saudosismo, mas na verdade, de fato, somos de um tempo onde havia respeito, limites, obediência; e com certeza é esta forte influência que faz com que exprimas estes sentimentos no texto acima. Vejo que se copiam as soluções mas não o que se faz chegar até elas. Existe um caminho a ser trilhado; tudo na vida é assim! E o fato de pintar as ruas de vermelho e chumbar ferros no chão, mostra que faltam peças neste quebra-cabeças. E sem elas, por óbvio, não se tem o todo, a harmonia e o resultado esperado. Este "vácuo" é constatado, infelizmente, nas atitudes de muitas pessoas sedentas pelo que não sabem nem mais o quê. Qualidade de vida não se mede por dinheiro e sim por atitudes. Muito do que parece, não é e, como já dizia o rei: "eles estão cegos"! Há dois anos decidi deixar Porto Alegre, justamente por estas razões. É difícil para mim, às vésperas de completar 47 anos, deglutir tantas coisas que vão contra tudo o que aprendi. Como diz o meu filho, Pedro, de 20 anos de idade: "pai, o problema são as pessoas, não a cidade"! E concordo com ele! Mas como viver numa cidade onde as pessoas não te respeitam e, no caso de quem pedala, te atropelam, te mandam para o hospital todo esfolado e com diversas fraturas, como já aconteceu comigo (fora todo o resto)? E o que dizer das centenas de pais que perderam seus filhos para este "vácuo"?
    Na faculdade de Direito, tinha um professor que dizia (ele fez esta conta e explicou com todos os fundamentos, em aula) serem necessárias mais onze gerações para voltarmos ao que deveria ser, caso isto começasse hoje. E este hoje já faz parte do ontem.
    Quanto ao meu filho, que já teve sua bicicleta roubada sob ameaça, em bairro nobre de Porto Alegre, sentado com uma amiga, à beira do Guaíba, assistindo ao pôr do sol (provavelmente pela orientação que sempre dei, de não reagir e privilegiar a vida), temos conversado muito a respeito. Até porque ele continua estudando nesta cidade e corre todos os riscos, todos os dias. Mas tudo indica que, ao se formar, irá embora, parece que para outro país, e de mim tem a maior força, pois só posso desejar para ele o melhor e sei que este melhor está longe de ser num lugar onde se sai de casa e não se sabe se vai voltar, ou em caso positivo, em que condições. Fruto do tal de "vácuo", do espaço em que faltou pulso e exemplo e onde as vítimas são justamente aqueles que não cederam à "malandragem" ou às facilidades de um mundo impune e do "não dá nada", coisa que muito ouvia falar quando ainda morava neste lugar.
    Enfim, acho que me estendi um tanto quanto...
    Forte abraço e que Deus nos abençoe e nos traga sempre sãos e salvos aos nossos lares e famílias.

    ResponderExcluir

Seu comentário será aprovado em breve. Obrigado. Andarilho